ROSA RAMOS
Glória Vaqueiro vai na berma da estrada, a poucos metros da fronteira com Espanha e a outros tantos da aldeia de Constantim. Equilibrada em cima da burra, faz questão de explicar o porquê do meio de transporte – cada vez mais raro, mesmo em terras de Trás-os-Montes. “Não sei andar de bicicleta e nunca tirei a carta de carro. A burra dá-me jeito para ir aqui e além e é nova, só tem seis anos. É mansinha.”
A fala da transmontana é estranha: as palavras são portuguesas, mas o sotaque faz lembrar o castelhano. Mas também não é mirandês. “Só falo mirandês com quem também fala”, avisa. Glória, a dona da burra, tem 68 anos, vive com uma reforma de 400 euros e ainda se lembra do tempo em que “toda a gente” andava de burro ou a cavalo. Até o Dr. Barros, o médico de serviço na região, que morreu “há já muitos anos”, mas que palmilhava as aldeias de Miranda do Douro a cavalo para assistir os doentes em casa. (more…)