LUÍSA PINTO
‘O domingo amanheceu com um sol tímido, a permitir uma bonança que a trovoada da madrugada quase espantou. E, seja sábado ou domingo, Inverno ou Verão, os dias de Domingos Manuel Alves, começam quase sempre da mesma maneira. Cedo, com o sol, porta fora, a caminhar pelo planalto. “Toda a vida fui pastor”, diz ele, com 84 anos, bata vestida por cima da roupa, a esconder um eventual fato domingueiro. Talvez não o use, até porque nem sabe se neste domingo há ou não missa na aldeia de Malhadas. “O padre vai a muitas aldeias, não vem cá todos os domingos. Só há missa quando ouvimos o sino a tocar.”
Domingos toda a vida foi pastor, mas já não tem gado para pastar. Mesmo assim, quer que os dias se mantenham iguais. E quando o dia nasce, é preciso pôr os animais cá fora. Agora não tem vacas, mas tem duas burras, a Andorinha, de 11 anos, e a Marta, de quase um. Os burros sempre o ajudaram a lavrar os campos. “Agora já não fazem nada”, revela. Ou fazem muito – afinal, fazem-lhe companhia nestes passeios matinais.
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